Sessão 4

       










             Como combinado preparei o makey makey para a sessão de hoje. Preparei-o com vários ficheiros. Aquando da escolha dos sons, pensei qual seria a melhor opção. Depois de muitas ideias sem sucesso concluí que o mais importante seria dar a cada um deles a opção de tocar o que mais gostam. Assim sendo criei 4 ficheiros: 
                             - Um, dedicado exclusivamente ao Diogo: com apenas sons de pratos. 
                             - O segundo com quatro notas (Dó, Ré, Mi, Fá) do piano. 
                             - O terceiro com quatro sons de uma bateria. 
                             - E por último, para que eu pudesse tocar, um ficheiro com os quatro acordes da música Stand By Me. 
               Pensei que seria melhor, para não ser tão invasivo, colocar colheres em vez de fios na pele de cada elemento. Assim não haveria risco de, devido ao medo, eles não querem experimentar.

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                  Quando cheguei o maestro já tinha começado o ensaio. O Rocco não pode vir, tinha uma reunião importante. O indivíduo F e o indivíduo V estavam a faltar. Começaram por cantar umas músicas antigas, desconhecidas para mim. 
              O maestro, muito interessado pelo meu projeto, cedeu-me uma hora do ensaio para que todos pudessem experimentar o novo instrumentos: Makey Makey. Após montar a mesa de som, perguntei se alguém imaginava que instrumento estava dentro da saca. Olharam-me atentamente à espera de uma resposta. Abri a bolsa e, com muito entusiasmo disse: - “Hoje vamos tocar Bananas”. Riram-se perdidamente de mim. 
                    O maestro, motivado pela experiencia, colou o dedo no ar e, então dava saltos dizia “Eu quero ser o primeiro”. A expectativa era visível na cara de todos. Ele pegou nas colheres e tocou. Afinal as bananas também podiam tocar. Estavam incrédulos. Exprimiram-se com gritos, gargalhadas, saltos... Todos queriam experimentar. Estipulamos uma regra: o último a experimentar escolhia o próximo. Desta forma a ordem seria aleatória, o que não nos comprometia a desagrados.
                  O primeiro foi o  indivíduo J. Escolhido de forma aleatória, levantou-se e dirigiu-se para a mesa. Não estava muito contente. Tocou meia dúzia de notas e voltou para o seu lugar. Fiquei repreensiva. Será que eles não vão gostar?             
                  Em seguida foi o indivíduo I1. Eufórico, quiz experimentar com os sons de bateria. Para explorar todas as possibilidades do instrumentos expliquei que era possível tocar a pares, apenas tinha que lhe dar as mãos. Assim foi. Ele deu as mãos ao maestro e, quando tocava, deixava a colher pousada imenso tempo em cima da banana (parecia uma metralhadora). O maestro, ainda de mão dada, brincava fingindo levar um choque. Foi motivo para muitas gargalhadas.



                 O indivíduo I1 escolheu o indivíduo B. Como normalmente o seu instrumento é de percussão, pensei que o ideal seria começar com os sons da bateria para que estivesse mais familiarizada. O maestro fez uma brincadeira: pediu para que o indivíduo B não tocasse em nenhuma banana realizando toda a melodia a partir do contacto físico entre eles sendo possível, desta forma, elaborar ritmos mais complexos com muito mais facilidade porque está dependente do mau contato das colheres. Estava tanta algazarra que algumas das funcionárias do centro vieram ver o que se passava. Posteriormente, já com os samples de piano, o indivíduo B tocava enquanto o Zar acompanhava com a guitarra.


                  O indivíduo E estava triste porque queria muito tocar e nunca mais chegava a sua vez. Pedimos ao indivíduo para que o escolhesse. Permaneceu os samples do piano porque para ele isso não era importante. Tocava apenas uma nota de cada vez com um enorme afinco. O maestro, à semelhança da performance do indivíduo B acompanhou a sua performance dando espaço a que todos os elementos da orquestrinha participassem também com os seus instrumentos convencionados.



                  Quando o indivíduo se preparava para escolher a próxima pessoas, o indivíduo I levantou-se e dirigiu-se, sem dizer nada a ninguém, à mesa. Ficamos todos incrédulos porque por norma, tal como já foi referido neste diário de bordo, é uma pessoa extremamente apática e de muito pouco palavras. Para mim foi uma expressão de genuíno agrado e interesse pelo trabalho que estava a ser realizado. Com as suas limitações tocava sempre as mesmas notas, uma nota de cada vez sem varia o ritmo. Na verdade o que mais lhe interessava era a ordem e a disposição perfeita das bananas em cima da mesa.




                  Por ultimo veio o indivíduo A. Referiu inúmeras vezes “Nunca vi uma coisa assim”. Com a ajuda do seu anel, já era possível fechar o circuito sem o intermédio das colheres podendo tocar apenas com as mãos. Esse fato cativou-o ainda mais. Deixei que ele tocasse o que mais gostava e, com a ajuda de uma música que lhes é familiar, todos tiveram a oportunidade de, sem receios participar nesta performance acompanhando o instrumento solista - as bananas.




                  Tentei que o indivíduo D experimentasse até porque grande parte deste instrumento estava pensado para ele. Como não demonstrou muito interesse não quis pressionar.
                  
                  A fim de melhorar o instrumento e de agradar a um maior número de elementos perguntei: - “O que gostariam que tocasse em vez de bananas?? Sabem que tudo pode ser um instrumento??”. O indivíduo A esboça um sorriso maroto e responde: “Tudo mesmo??”. Assenti com a cabeça e com um sorriso mas com medo da sua resposta. - “Maças” - disse ele. – “Ok. E se não fosse um fruto??”, perguntei eu. - “Batatas”, responde-me ele sem hesitar.
                  
               Já na visão de um novo instrumento perguntei quem gostava de desenhar. O indivíduo I1 afirmou logo que não gostava, adorava. Propus-lhe então que, na semana próxima, sem nenhum tema pré-estipulado, me fizesse um.
              Soube, no ensaio anterior, que o indivíduo D elaborava esculturas de barro com bastante detalhe e perfeição mas, que quando sentia que estava pronta, destruía-a, começando de novo. Sabendo dessa sua aptidão comentei-lhe, numa tentativa de perceber se me faria uma para desenvolver um instrumentos desenhado e pesado para ele. Não obtive resposta da sua parte pois estava no seu mundo no entanto, uma funcionária do centro explicou-me que isso era por fases e que neste momento ele já não tinha interesse por essa arte.

                  Já no fim do ensaio, em conversa com a psicóloga, pedi-lhe que, se possível e sem fazer uso da informação pessoal, me fornecesse os dados pessoais dos elementos que integram o projeto.Afirmou que em princípio não haveria qualquer tipo de problema e que, mais tardar na terça-feira os teria comigo para poder fundamentar as minhas escolhas musicais e adapta-las a cada um deles. 
              O Zar não se opôs a nenhuma das minha ideias para o projeto. Explicou-me ainda todos os procedimentos necessários para com a câmara da feira.



                  Nas próximas semanas não haverá ensaio porque o maestro não estará no país. No entanto, o Rocco demonstrou máxima disponibilidade em receber-me.

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