Sessão 2

         










          À semelhança da semana passada já estavam todos preparados. Sentados nas suas cadeiras esperavam o ensaio. Parece-me que eles esperam a semana inteira por este momento. Momento de música e diversão.
            Expliquei a todos que ia filmar o ensaio. A Aida disse a brincar: “Vamos aparecer na RTP esta noite”. Olharam todos para mim à espera que eu confirmasse. Ri-me. O indivíduo V entendeu logo que era mentira e disse: “Oh, quem me dera”.
            Houve um relembrar das mesmas músicas da semana passada. As canções, foram pensadas à medida de cada elemento da orquestra. O processo criativo, normalmente consiste em: espontaneamente algum dos elementos improvisa; o maestro escolhe o que lhe parecem ter potencial; adapta esse tema a cada um dos instrumentos. Apesar de não ser uma improvisação – cada um deles sabe o que tem que fazer em cada peça - nunca se sabe como vai ser o efeito final. O resultado final nunca é melhor nem pior, é simplesmente diferente. Como a maioria não sabe ler nem escrever, todas as letras são cantadas com LÁ LÁ LÁ.          
       Hoje ainda não interagi diretamente com eles. Combinei com o maestro que ficaria só a assistir. Mesmo no meu cantinho não me contive e comecei a cantar. O espirito é contagiante. Respira-se boa energia. Senti-me realmente acolhida quando o indivíduo V olhou para mim e disse: “Canta mais alto”. Sorri. Cantei mais alto e com menos medo.
             O maestro voltou a trazer o instrumento da semana passada. O indivíduo V foi o mais interessado. Conseguia, ainda que com algumas dificuldades, coordenar o ritmo da mão direita com a mudança de nota da mão esquerda. Foi possível adaptar este instrumento a uma das músicas do repertório.
            Desde a semana passada que havia uma mulher que me intrigava bastante - indivíduo I. Sempre sentada na mesma posição. Não fala nem reage a nada. Surpreendentemente, no decorrer do ensaio, ela não parava de olhar para mim (estava atrás dela) e dizer-me: “Olá”. No fim do ensaio o indivíduo V veio falar comigo. Pediu-me para que viesse sempre. Enquanto falávamos chegou o indivíduo  I. Agarrou-me no braço com toda a força e não me queria largar. Fazia sinal para eu ir com ela. Não sabia muito bem como reagir. A Ainda veio e levou-a explicando-me que era normal. Ela empolga-se com pessoas novas.

            Em conversa com o maestro e com o Rocco, pedi-lhes para que criassem uma canção de raiz. Para mim é muito importante saber como tudo acontece todo o processo criativo. Perguntei ainda, se era possível fornecerem-me informação sobre a história do grupo e os projetos em que estiveram envolvidos. Como sempre, mostraram-se super disponíveis para tudo. A Ainda acrescentou ainda que seria muito divertido reviver todas as memórias. Trazer vídeos e projeta-los durante o ensaio seria mais um beneficio para o bem-estar de todos.

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