Sessão 5













          Devido à ausência do maestro Zar, durante 2 semanas, não houve ensaio. Aproveitei esse tempo para pensar e organizar melhor o meu projeto, idealizando, com a ajuda indispensável do meu pai, novos instrumentos acústicos de percussão. Em simultâneo, com a ajuda do Prof. Paulo Rodrigues e do Prof. Filipe Lopes, estive a desenvolver um outro instrumento de percussão – Silent Drum – com base nos TUI’s.
            Para este ensaio planeei a experimentação/ junção dos instrumentos conseguido até à data: um Hapi Drum (construído pelo meu pai) e o Makey Makey. Assim sendo, como o Hapi Drum está afinado a partir da escala pentatónica de Mi, remapeei o Makey Makey para que, utilizando o programa Garage Band, pudesse adaptar em tempo real o som que mais se adequasse à performance.

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            Cheguei à Cerci e, como de costume, já estava todo preparado. Juntamente com os elementos da orquestra e o Zar estava um elemento da divisão de ação social da câmara da feira – Lisete Costa. Com a sua simpatia e energia conversamos sobre o meu trabalho com a orquestra e sobre a possibilidade de integrarem o Projeto X. Em conjunto, encontramos o melhor dia para que o Prof. Paulo Rodrigues se juntasse a nós - próxima 6ª feira, às 14:30h. Mostrou-se super entusiasmada e disposta a nos ajudar com todas as despesas inerentes ao projeto. Após estar tudo combinado fui falar com o indivíduio I1 porque ele tinha-me prometido um desenho. Ficou triste porque se tinha esquecido das folhas em casa, mas, explicou que tinha desenhado muitos instrumentos musicais como o clarinete, as “caracas”, triângulo ...
            Hoje estava destinado ensaiar o repertório música para a peça de teatro com as marionetas. Enquanto esperávamos pelo Diogo do Teatro em Caixa (coordenador do espetáculo das marionetas), eu organizava o espaço para a experimentação. Senti que todos estavam um pouco impacientes por não começar a horas. O gosto e a paixão pelo que fazem é tanto que lhes custa esperar. Entretanto, o Diogo chegou com o seu cavaquinho e com ele veio o Prof. Rocco. Entusiasmados com os materiais que eu tinha trazido, decidiram que o melhor seria mesmo passar à ação. Levei a mesa para o centro onde tinha, para o Makey Makey cinco teclas, feitas de fita cola condutora coladas na mesa e, ao lado estava o Hapi drum.



       Comecei por perguntar quem queria experimentar: o indivíduo E não pensou duas vezes e levantou o braço. Comentei: “estou a ver que gostaste das bananas” ao qual ele acenou com a cabeça de forma afirmativa e com um sorriso na cara. Para experimentar o Hapi veio o indivíduo B. Com eles improvisava um bandolim, um cavaquinho e um clarinete. A festa estava instalada: uns dançavam, outros tocavam e os restantes ouviam atentamente o que estava a acontecer.



      Apesar do seu sentido rítmico fabuloso e da sua enorme habilidade para instrumentos de percussão, pedi ao indivíduo B para que cantasse um pouco, o que ela quisesse. Para substituí-la veio o indivíduo V, que desde o princípio se uniu ao grupo para ver de perto tudo o que acontecia, dançando também um pouco. O indivíduo B, tímido não cantou. Ainda tentei ajuda-lo cantando um pouco, mas ele olhava-me com uns olhos de “não sei o que fazer”.


        Numa tentativa de integrar o indivíduo D na atividade estendi-lhe a mão e disse “Não queres vir tocar comigo?”. Olhou-me com um olhar seguro e deu-me a mão. Enquanto nos dirigíamos para a mesa o indivíduo D saltava e repetia infinitamente “Experimentar, experimentar, experimentar...” como se estivesse a consciencializar para o que ia fazer. Estava muita gente à volta da mesa e, durante aquela espera alguém no meio da confusão libertou um gás tóxico e mortífero. Reagi como se nada tivesse acontecido tentado suportar o odor. O indivíduo D olha-me desde de cima e pergunta: “Como te chamas?”; respondi muito rapidamente “Mónica! Já devias saber!”; sem hesitar, comenta: “Mónica, cheira a mal!”. Não consegui conter o riso - “Mas não foi eu”.




           Além do indivíduo D, consegui que o indivíduo C (um elemento da orquestra que tem um sentido de ritmo enorme, mas que pouco fala e tem com pouca iniciativa) fosse experimentar o novo instrumento. Normalmente só toca com uma mão e coloca a outra por baixo das pernas, contudo, ao tocar o hapi drum utilizou as duas baquetas que estavam disponíveis. Enquanto tocavam, o indivíduo agarrou-me para dançar.

            O que supostamente era uma experimentação começava a ganhar contornos. As sonoridades chinesas invadiam a sala e todos se sentiam confortáveis com a música. Numa fase final, tipo Jam Session, estava a indivíduo no Makey Makey e o indivíduo A, contrariado, no hapi drum. Os outros tocavam os seus instrumentos habituais: o indivíduo B, o indivíduo F e o indivíduo V1 tocavam afincadamente nos xilofones, o indivíduo D esfregando os pratos cuidadosamente sempre sentido metronomicamente a pulsação com o corpo e, os restantes, com o destaque positivo da motivação do indivíduo B, disfrutavam do momento tocando instrumentos de percussão, com o acompanhamento das cordas e a improvisação simples do clarinete. O Zar coordenava a intencionalidade da música apenas com a expressão facial. Os momentos de Tutti em que todos tocavam forte contrastavam com com as secções cantadas e com os momentos a solo do Hapi drum e do Makey Makey -  o indivíduo A, que até então não estava confortável com a interação com o novo instrumento, já não se importava de improvisar sozinho; a partir das expressões do indivíduo T notava-se que estava muito concentrada (semicerrava os olhos, mordia o lábio inferior e fazia imensa força nos dedos para tocar).





     Depois de toda esta partilha de talentos o ensaio terminou, de forma mais descontraída e mais familiar com a interpretação da música do Rei Leão.

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